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2009/11/23

Faz-se sentir o silêncio das letras… porque as palavras e os gestos me foram roubados…

2009/08/17

Prometeste-me o mundo!

Fizeste-me acreditar ser capaz

e abandonaste-me neste lugar!

Um lugar que desconheço,

ao qual não pertenço e onde não quero estar.

Mostras-te-me o firmamento e fizeste-me crer

que seriam minhas as estrelas,

se abraça-las eu quisesse.

E como eu quero!

Mas são curtas as minhas pernas

E o peso dos meus braços faz-me tombar!

prostada no chão sob o imensuravel peso da vida.

os meus braços abertos, demasiado compridos,

por vasto ser o firmamento

e prometeste que o poderia abraçar

se ali levasse o pensamento.

Mas são curtas as minhas pernas

e o peso dos meus braços,

dos meus braços longos, faz-me tombar!

Noite…

2009/08/17

Escavas no meu corpo sulcos negros

e baços de tristeza. Esculpes no meu olhar

a passagem de um tempo que não é o meu!

Adoças a minha solidão com os dedos do luar

e finges desconhecer os meus medos,

as minhas verdades, os meus cantos vazios.

Sussuras palavras engenhosas, que recuso ouvir,

conduzindo-me como se conduz uma presa

a uma armadilha, a um mundo diferente ao qual recuso ir!

Ardilosa, seduzes-me e encurralas-me entre paredes

de solidão, de desespero, de saudades!

Não deixo que me enlaces e invento jogos de distração!

Recordo o calor das cores, das gargalhadas

das bocas de outras bocas e anseio-as

para mim.  Vens sorrateira e encerras-te

no meu peito, conquistando espaço

escondes-te em  vazios recantos meus que desconheço

Tornaste dona do corpo e invades a mente.

Negra como só tu! Envolves-me em segredos não revelados

e prostas-me de joelhos, sob o peso de sonhos,

de verdades escondidas. Noite negra,

silenciosa e impudica que me rasgas

em pedaços, como rasgo as palavras

como se minhas não fossem, como se fossem de outrem

os sentimentos que carrego no peito.

Abandona-me agora, amanhece

e quero estar comigo!

2009/08/10

Sinto que te pertenço, que sou tua um pouco…

Sei que me pertencem os teus pensamentos

Sei que repousam em mim as tuas vontades

que passeiam na minha pele os teus desejos,

Sente que és meu também, que és meu um pouco

que te pertencem os meus pensamentos,

que os meus desejos caminham junto dos teus!

Que são tuas as minhas vontades!

Pertencemo-nos agora que estamos longe

Como nunca antes quando nos tivemos nos braços!

Como é irónica a nossa história!

Como é tão longa e parece não terminar,

Não sou capaz de te deixar!

Não sou capaz de te ver partir,

sem a certeza de ter feito tudo

para que a tua vontade seja a de ficar!

2009/08/04

Com um dia de trabalho a chegar ao fim senti uma vontade indescritível de me sentar e ler um livro, sabia exactamente que livro queria ler e fui busca-lo ali ao lado, á biblioteca. Senti rapidamente o cheiro dos livros e sorri… Encontrado que estava o livro, saí com um propósito único o de devora-lo em apenas algumas horas. Enquanto caminhava para casa, os meus passos e o meu pensamento conduziam o meu corpo até beira-rio. Deleitada com a antecipação do prazer de me sentar de frente para o rio com um livro na mão, esqueci a confusão, esqueci os outros e a surpresa não se fez esperar.

A deliciar-me com um queque de chocolate, não notei a atenção cativada de uma ou outra pomba que esvoaçavam em meu redor. Fez-se um breve momento de silêncio, mas era tal a confusão, vozes, corpos em movimento, pronúncias estranhas, línguas que não entendia que o breve foi realmente breve e os pensamentos saíam atordoados.

Num sobressalto, reconheci uma melodia no meio de tal agitação… um violino, um homem de pele queimada pelo sol, cabelos grisalhos tocava violino no meio da multidão.

Procurei o casal apaixonado. Se havia um violino, haveria também um casal apaixonado. Não o encontrei. Decidi caminhar.

A ribeira estava cinzenta, o vento acariciava-me a pele. Fui caminhando pela margem, com olhar atento a tudo o que me rodeava. Desejei mais uma vez viver numa daquelas varandas sobre o Douro e poder ama-lo sempre, da minha janela, de uma daquelas varandas.

Desejei que ali estivesses, desejei partilhar contigo aquela vontade, aquele sentimento… e em instantes voltei a estar só. Só eu e o Douro e as suas águas agitadas e caminhei enamorada. Não sentia o cansaço que se estampava no meu rosto que vislumbrava no reflexo de uma qualquer janela. Terminado que estava aquele pedaço de margem, caí, sem me aperceber no meio de um turbilhão de motores, de gente apressada de turistas perdidos… senti-me sobressaltada! De novo só….Caminho no regresso a casa.

Cheguei e em silêncio, para não despertar os sentidos, para não despertar o cansaço, deixei-me abraçar pela água, que quente corria pelo meu  corpo. Agora novamente no silêncio, delicio-me com recordações….

Devaneios…

2009/08/04

Como eu amo o negro da noite! Como me faz bem esta ausência de sentidos…

Na escuridão vou deixando cair os últimos laços, os últimos prazeres que me prendem! Busco, nesta ausência de sentidos, a lucidez que me permita saber ser, saber sentir e não sentir, destrinçar o real de uma fantasia vã. Recuso-me a viver fantasias, mas não evito entrar em jogos que a ela me conduzem. Renuncio! Nesta escuridão, nesta ausência, com uma sede de lucidez nego a minha natureza “sentir” e abraço uma outra, “pensar”. O que eu  for não capaz de sentir, o que eu não for capaz de tocar, o que não for capaz de respirar  não passa de uma ilusão, um jogo divertido e perigoso, que disso não passará.

Um truque do desejo… e o desejo ludibria-nos…quais marionetas tontas sem vontade, faz-nos crer no impossível, quando o impossível, sabe -mo-lo bem, tarde ou nunca chegará…

Não tenho medo! Estou de peito e alma abertos, a quem de alma e peito aberto chegar… com o real para me oferecer!Sem jogos, sem mas nem complicações…. Peço o impossível? Peço apenas o que é meu por direito: Uma alma em troca de uma alma, um corpo em troca de um corpo! Se não  estás por inteiro, não me recebes pela metade!  Sou muito mais que isto que vês, sou mais do que os prazeres que o meu corpo te oferece.

Não me entrego a vontades vãs, a loucuras, por maior que seja o extâse, a que estes desejos me conduzem! Aprendi que o preço a pagar é alto demais!

Recuo, isolo-me, afasto-te… vou até onde me deixa ir a lucidez recente!  Sei serem  jogos de palavras, tão facilmente escritas, tão facilmente ditas adensando  encantamento…qual nevoeiro em manhãs cinzentas! Deixas fluir, perdes a consciência e vais, com todos os sentidos dormentes mas  pleno de certezas que quando o encantamento se quebrar estarás a pairar como que folha solta da árvore num bailado ao som de uma brisa.

A tua queda será dura! Será duro o teu despertar deste malfado encanto… Serena-te, resguarda-te, não te dês, não me dou…

Sad…

2009/07/31

I’ve beiing sad… do not know exactly why… i just am…

Sou…

2009/07/27

São coisas vulgares que há na vida, pequenos monstros que assombram todos os sorrisos, encobrem sentimentos, coagem as acções! São sentimentos que não estão onde desejo que estejam, são passos que recuso dar! São riscos que me atemorizam são pequenas frustrações de quem se liberta de si para se dar a um outro, que cruza os braços e recusa receber.

São pequenos todos e pequenos nadas que fazem de mim quem eu sou, são palavras, são gestos, são olhares! Sou eu!

Acima de tudo, sou eu, esta que aqui vês, esta que tu outrora sentiste, outrora tiveste nos braços, esta sou eu! Aceita-me como um todo, dá-te como um todo,  não te peço que te amarres, peço-te que te dês, peço-te que entregues sabendo que és livre de partir…

São estas as palavras que tento dizer, são estes os sentimentos que tento ordenar teimosamente… o tempo e a persistência tratarão de fazer esquecer as palavras, fazer morrer os sentimentos, devolver a parte de mim que deixei por aí…

Hoje as palavras traiem-me, tal é o emaranhado de tudos e nadas de sentimentos novos, e sentimentos velhos que teimam em persistir. Não encontro um discurso lógico, não me permito viajar, porque me amarro demasiado. Soltar as amarras e ir, dar aso aos meus desejos, ás minhas vontades…sem pensar no que me espera do outro lado.

Susana

Insónias….

2009/07/15

Não sou capaz de adormecer, já me enfiei na cama um sem número de vezes e outras tantas me levantei. Não consigo sossegar, estou atordoada tantos são os pensamentos e as recordações que me invadem. Não sou capaz de explicar porquê… logo hoje que preciso descansar, estou de tal forma acordada e com a energia a mil que me salta o coração pela boca sempre que faço um movimento qualquer.

Que estado de ansiedade! Que tortura! Nada no rádio é capaz de me acalmar. O típico ” copinho de água com açúcar só me  deixou mais eléctrica como se o pacotinho de açúcar que meti dentro do copo fosse o combustível de uma locomotiva doida que circula a 200 kilometros hora.

Leite com canela? Em noites normais é normal dar-me sono, mas a canela é um afrodisíaco,  se o copo de água deu no que deu,  o melhor  será deixar a canela sossegada.

Não sei mesmo o que me deu. Serão os pontos finais, que o dia de amanhã traz consigo ou serão as introduções de  um texto ainda por escrever… o próximo ano da minha vida. Sinceramente não sei! Tento apanhar as palavras que me saiem aos solavancos por tudo quanto é lado e vou construindo frases, tentando manter  um raciocínio linear para que daqui resulte um texto qualquer, mas hoje, sem dúvida, será apenas um desabafo, um grito :

“Estou inquieta, não quero estar aqui e não sei onde quero estar!”

Eu devia tentar dormir… Cerrar os olhos e deixar que a calma e o sossego se apoderem de mim. Se raramente o conseguem, pelo menos hoje podiam tentar com mais força.

Hoje sim agradecia-te que  me vencendo pelo cansaço me pusesses para dormir. Que digo eu? Disparates!  Nem tu me vencerias pelo cansaço… Hoje nem tu!

Hoje nem sequer me falas!

No metro…

2009/07/09

Nas viagens de metro, invariavelmente acontecem pequenas histórias que acabam por dar outra cor ao dia! Fui entregar a papelada na escola e  lá estava a personagem de ontem, esbanjando antipatia, e para lhe fazer justiça implicou, desta vez, com o certificado. Em  dois segundos fervi…. e respondi-lhe pegando no papel e apontando para as letras a negrito:

– Está aqui!

Depois deste pequenino contratempo, sorri-lhe com a maior das boas disposições, e regressei a casa.  No regresso a casa, tal como, na viagem até á escola, ia ouvindo comentários uns mais outros menos simpáticos acerca do decote do meu vestido. Mas não foram estes comentários, ás vezes um pouco maldosos até, que me fizeram diferença.

Entrei no metro na Trindade, com destino ao S. João e sentei-me no banco em frente a um avô com a sua netinha. Era uma menina com os seus 6, 7 anos não mais, com uns caracóis dourados e uns olhos cor de mel muito doces.

E lá ia ela cantarolando sozinha, aquelas cantigas que aprendemos no recreio da escola. Bons tempos aqueles, tantas saudades!

Sem que eu estivesse á espera abre muito os olhos, encosta-se para trás e diz para o avô:

– “Esta menina é estranha!  Usa brincos diferentes e usa um ali. “( o brinco ali, seria o piercing que uso no nariz)

E o avô responde:

– ” Não sei! Não vi!”

E ela continua:

-” Um é pequenino, é um coração! O outro é uma bola pintada”

A ela não lhe fez diferença o tamanho do meu decote, mas  viu o brinco minúsculo que usava numa das orelhas, e reparou no brinco comprido que trazia na outra e que sim estava pintado.  Não pude deixar de lhe sorrir e olha-la com ternura.

Lá continuou a brincar, cruzando as pernitas á chinês sobre o banco e olhando para o chão. Por uns instantes, pensei: Será que ela vai ver a tattoo?. De facto, não preciso muito tempo, para que ela voltasse a fazer aquela expressão de descoberta e pergunta ao avô:

– Estás a ver o mesmo que eu? Se estiveres a ver o mesmo que eu és bonito!”

O avô lá lhe pediu para colocar os pés para baixo e ter cuidado para não me acertar. Obediente, colocou os pés para baixo e continuou:

– ” É uma tatuagem! É  uma borboleta. É bonita!”

Chegaram ao destino!  ao levantar-se olhou-me e disse-me: É bonito o brinco e a borboleta também!

” Adeus!- disse-me acenando com aquela mãozinha tão pequenina ainda.

Eu ri-me disse-lhe adeus e obrigada acenando-lhe também!

Fez-me surgir um sorriso ainda maior. Agora enquanto escrevo, recordo-me daqueles caracóis e daquele olhar curioso.

Como é bom ser criança!